sexta-feira, 23 de julho de 2010

Semana da Experiência na Comunidade de Findhorn

Uma opinião sobre a nossa viagem...




"A minha ida a Findhorn, no nordeste da Escócia, foi a realização dum sonho velho de mais de 10 anos, creio que com início no momento em que li “Travessia para Avalon”, de Jean Shinoda Bolen. Fiz a chamada Semana da Experiência, que deve preceder qualquer outra actividade que se venha a fazer neste lugar.


É fácil pesquisar na Internet sobre a Comunidade de Findhorn, famosa no mundo inteiro, criada no início dos anos 60 pelo casal Eileen e Peter Caddy e a sua amiga Dorothy Maclean (ainda viva e a residir aqui). Uma história muito bonita de pessoas que foram aonde o seu coração as levou, criando uma obra que não cessou de crescer desde então, irradiando para o mundo inteiro uma fantástica energia de esperança, que tem sobretudo a ver com o desenvolvimento de relações correctas e amorosas entre todos os seres humanos e entre estes e a natureza. O seu trabalho na área do ambiente e da sustentabilidade valeu-lhe o reconhecimento das Nações Unidas, e pessoas do mundo inteiro vêm actualmente aqui em busca de inspiração e de know how para propagar pelo globo princípios semelhantes. Uma das condições essenciais para se permanecer na Comunidade de Findhorn, entretanto, é ter-se uma vida espiritual activa, independentemente do tipo de religião ou de crença.



Embora a Comunidade (e também Fundação) não se limite a um único espaço físico – a poucos quilómetros existe Cluny, o hotel onde inicialmente trabalhavam Eileen e Peter Caddy – a nossa semana decorreu essencialmente no Parque de Findhorn, um espaço repleto de árvores, jardins e hortas, que inexplicavelmente crescem e vicejam num terreno muito inóspito à partida. Ao lado, uma base aérea com um ruidoso movimento que apenas parece perturbar os visitantes menos centrados.



Cerca de 300 pessoas vivem aqui, nas várias zonas residenciais que compreendem sofisticadas habitações ecológicas, caravanas, casas simples de madeira, casas sobre rodas, e as famosas casas feitas com barris de whisky escocês… Outras ainda, como o Santuário da Natureza, onde todas as manhãs se podem ouvir (e cantar, quem sabe…) cânticos de Taizé, semi-escavadas na terra.


A Semana da Experiência decorreu bem preenchida com actividades diversificadas: danças circulares sagradas (uma especialidade de Findhorn), jogos, reflexões, partilha, passeios e trabalho, “amor em acção”. A cada um(a) foi atribuído o seu posto de trabalho, respeitando tanto quanto possível a nossa vontade. Escolhi, juntamente com duas outras companheiras, a cozinha de Cluny, onde lavei louça e preparei legumes durante três tardes. Na manhã de quarta-feira, todos fomos até à horta principal, onde arrancámos ervas, fizemos camas de palha para as abóboras e curgetes e lavámos as estufas.
Comida vegetariana abundante, variada e deliciosa.



Pessoas do mundo inteiro vêm aqui para estudar diversas matérias relacionadas sobretudo com ambiente e sustentabilidade, educação e vida comunitária ou fazer trabalho voluntário…
Fiquei fascinada com um tema em particular: a PERMACULTURA. Beatriz Gutierrez, uma jovem espanhola de Tenerife, engenheira agrónoma, fez-nos uma introdução ao tema e levou-nos até à sua casa, feita dum barril de whisky, e à sua horta/jardim, delicadamente plantada mais “sobre” a terra do que” na” terra, uma vez que neste tipo de agricultura não se cava o solo. E de repente percebemos que também uma exuberante flora silvestre desponta todas as primaveras sob os nossos pés sem que ninguém tenha para isso cavado a terra… A ideia é imitar a natureza; não explorá-la e esgotá-la, mas viver em harmonia com ela da forma mais amorosa e cooperante possível, para que a vida possa permanecer (daí o termo “permacultura”), para que a nossa presença sobre o planeta não o massacre e esgote, o que acabará por tornar impossível a nossa sobrevivência. É todo um estilo de vida que consiste em reciclar tudo, aproveitar tudo, vivendo de forma simples e criativa, em estreito contacto com a natureza, usando o nosso engenho e criatividade para encontrar as soluções menos agressivas. Sem esquecer que algo que não nos dê alegria não é sustentável, como se diz por aqui… Beatriz é igualmente ceramista (a cerâmica de Findhorn está presente por todo o lado e é lindíssima) e terminámos a noite na sua earth lodge, uma espécie de tenda escavada no chão, à volta duma fogueira, conversando sobre o tema e reverenciando a Mãe Terra. O amor e o cuidado que se dispensa à natureza, o reconhecimento da existência de elementais (fadas, elfos, duendes…) cujo trabalho com as plantas se reconhece e agradece, faz com que aquele terreno arenoso, dunas do Mar do Norte, onde teoricamente nada se poderia cultivar, forneça alimentos quase suficientes para toda a Comunidade.
A propósito, a pegada ecológica de Findhorn corresponde a menos de metade da média britânica.


A sensação que temos ali é de profundo respeito, tolerância e liberdade; entramos e saímos de qualquer espaço sem que ninguém nos pergunte quem somos nem onde vamos. Podemos deixar os nossos pertences em qualquer lugar, certos de que a propriedade de cada um é respeitada. Podemos até ir à “boutique” e trazer qualquer peça de roupa ou calçado que nos faça falta e também deixar lá algo de que já não necessitemos…
Findhorn foi para mim uma maravilhosa experiência de expansão da consciência, uma saída do espaço/tempo comum e a revelação dum outro mundo, pleno de grandeza e de sentido, porque centrado no espírito e em harmonia com a alma, o que nos torna verdadeiramente um(a) só, com @s outr@s e com a natureza."

Luíza Frazão

1 comentário:

  1. Já agora, Margarida, identificar minimamente as fotos: na primeira, Martin conduz-nos numa visita pelo Park; na segunda, o grupo; depois os cavalos junto à horta principal e finalmente Margarida com Beatriz Gutierrez na sua earth lodge, "de charla"...

    Foi uma viagem memorável e uma experiência que aconselho vivamente. Sem esquecer que ela aconteceu graças à tua capacidade de concretização, profissionalismo e dedicação extrema. Parabéns!!!

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